quinta-feira, outubro 2

Presença Constante

Hoje acordei a pensar muito em ti, assim com ontem...
Assim como anteontem e os milhares de dias anteriores;
Será assim, independentemente de para onde tu fores,
Sê-lo-á, não interessa para onde nossos rumos apontem.

Quero que meus bons pensamentos a ti sempre voltem...
É-me tudo saudoso! Nostálgico, revejo-te nas flores;
Sinto-te no ar fresco que sopra e abana meus horrores;
Aguardo, ansioso, que notícias tuas bons ventos me contem.

E de saudades fortes e longas meus dias ficam assim feitos,
Repletos de memórias e dos muitos sonhos que invadem
As intermináveis noites que solitariamente tenho dormido.

Eis minha enfadonha existência sem ti, sem grandes efeitos,
Longe do que mais almejo e demais coisas que me persuadem,
Propenso a sentimentos melancólicos que me têm consumido.

quinta-feira, maio 15

Sonho

O lindo sonho que meu sono inspira,
Todas as noites e até à aurora,
É uma verdade, jamais foi mentira;
Quero sonhá-lo pela vida fora.

É suavizado pelo som da lira,
Inclui aquelas emoções d'outrora,
Às quais minh'alma inconsciente se atira,
Oferecendo-se a quem tanto adora.

E deste sonho meu ser se sustenta,
Tal as abelhas do suco das flores,
Tal os selvagens de uma presa lenta...

Pelo que te peço, ó sonho de mil cores:
Jamais me abandones, só me contenta
Com doces memórias dos meus amores!

segunda-feira, maio 5

Parabéns Mãezinha!

Nos curtos (mas de coração) versos deste adulterado soneto,
Quero expressar-te, mãezinha, os votos de feliz aniversário,
De tamanha felicidade e, ainda, tudo de bom e de necessário;
E relembrar-te o meu incondicional amor e profundo afecto.

Que de amor, muita paz e alegria cada dia teu seja repleto
E que na tua saúde não haja um só miudinho de contrário.
Parabéns, inesquecível mãe, pelo teu valente septuagenário!
Fazes 70 conscientes anos e teu pensamento não é obsoleto.

Que continues a ser essa mãe adorável, presente e amiga
E que os teus mais ambiciosos desejos se realizem na plenitude,
Nessa nova e mudada vida a que essa terra estranha te obriga.

Que não haja engano na tua mais simples e impensada atitude
E que adornada de bondade a tua vida seguramente prossiga,
Por longos e felizes anos, sem te corromper uma única virtude.

terça-feira, abril 29

Viva Cabo Verde!

Lá longe, no além-mar, num cantinho de África espalhadas,
As ilhas hesperitanas conquistam o seu lugar no mundo;
Em cada bela ilha, cada filho tem um orgulho profundo
E, no conjunto, são todas, sem excepção, igualmente amadas.

Com aquele arquipélago (onde nunca se viram serras nevadas
E em que não correm rios, nem sequer por um só segundo,
Mas onde todos os dias se vê o mar e sonha-se com o seu fundo)
Todo o cabo-verdiano se identifica, nas suas longas jornadas:

No cantar do seu honroso hino e da sua melódica morna;
No espalhar da sua morabeza e no abanar da sua bandeira,
Com aquele espírito fraterno e altivo que nunca se suborna;

Pela musicalidade do seu crioulo e pelo rebolar da coladeira;
Pelo orgulho caboverdeano que de todos os seus filhos se entorna...
Viva Cabo Verde, terra amada e pátria para todos, sem fronteira!

quinta-feira, abril 24

Doce Cativeiro

A primeira vez que te vi, estavas lindamente retraída;
À segunda, tuas alegrias já se anteviam mais soltas;
À terceira, os meus pecados todos, sem voltas,
Confessei-te e propus-te que minha fosses para a vida.

Subitamente, aprazível mudança estava estabelecida:
Minha e tua vidas entrelaçadamente envoltas,
Teus cheirosos cabelos, de pontas longamente soltas,
Eram propriedade minha... E tu, toda consentida!...

Quando ninguém me apetecia, tornaste-te na musa
Que me cativou o coração, discreta e merecidamente;
E em momento nenhum pude presentir-te confusa.

Então de amor te enchi! Apaixonei-me perdidamente
E o meu consciente desde então, até agora, se escusa
De indagar o porquê deste desejo sempre presente.

terça-feira, abril 22

"De cor"?

"Preto", "negro" e etc.... permanece tudo numa boa;
Com "africano", pela minha origem, persistirei ufano...
Contudo, "de cor" irrita-me, põe-me atroz e insano,
Porque nada mais é que um cuidar literalmente à toa.

Esse atributo, que, tão somente, a ignorância me soa,
Não me inferioriza nem me causa o mais pequeno dano;
De longe não me atinge, pois neste assunto sou veterano...
Mas não me cai bem, quando da tua cínica boca ecoa.

Tu, que na África só acumulaste vergonha e desmando,
Torturaste, por séculos, o povo que da sua raça se orgulha
E lá te misturaste durante todo o teu humilhante comando,

Agora, na tua terra, com uma mente vazia que me embrulha
Nessa designação sem nexo ("de cor"?), tens receio - falando -
Que me ofendas, se exprimes o que vês: "negro como hulha"?

segunda-feira, abril 21

Sofrimento

"Ah, como eu sofro!" - dizia a outra numa antiga novela
A representar um papel qualquer... tudo e sempre a fingir.
Pois eu digo que muito sofro e não estou nunca a mentir:
Sofro de saudades do meu conto de fadas: minha cinderela.

Vou morrendo aos poucos aqui, desterrado, longe dela...
E morro definitivamente, se ninguém se dignar a me acudir,
Para esta minha nostalgia, de algum modo mágico, sacudir.
Dá-me, ó Venus, força! Socorre est'alma sofrida que t'apela!

Acudam-me, ó eternos Céus! Acode-me, ó valente mar!
Acode-me tu que és clemente e benévola, ó força divina,
Atende às minhas preces, cessa-me este meu penar!

Se a não trazes nem me levas, por obséquio, vê se me ensina
Como proceder para esta melancólica saudade dissipar;
Foca-me a tua luz e maldiz, de vez, esta minha negra sina.

quinta-feira, abril 17

O Poeta

Eis o poeta que chora sua dor com amargura!
O poeta que sofre, carpe e verseja;
Poeta que se derrete e morre por quem deseja;

Eis o poeta que canta sua dor com doçura!


Carpe-lhe o peito de desventura,
Mas entrega-se ao sacrifício, qual seja!
Platónico é e paradoxalmente almeja
Devotar seu âmago à noite escura.

De um modo sóbrio expõe sua alma:
Com tanto penar e carpir sem partilha,
Lá está o poeta com sua irónica calma!

Vê em algo macabro sobeja maravilha;
Idealiza a amada, tem-na como divina palma*...
Canta e chora sua dorida nostalgia em pilha*!


*Palma - Prémio
*Pilha - Rima

Fogo, 28 de Agosto de 01

quinta-feira, abril 10

Desejo

Gostava de te ter aqui comigo neste pequeno colchão
Para nos deleitarmos na sina do primeiro pecador;
Tu aquecias-me todo, derretendo o teu amor
E eu cobria-te com o grosso manto da minha paixão.

Ter-te-ia nua e do teu corpo se ocupava cada mão;
Roçava-me em ti, apalpava teu desejo, sentia teu calor...
E, todo compenetrado e molhado do teu perfumado suor,
Comunicava-me contigo só com o pulsar do meu coração.

Ter-te-ia, oh bela, aqui no meio destes lençóis,
Possuía teu corpo formoso e enaltecia mais a tua alma...
E cada parte daquele inspeccionava com toda a calma.

Esquecíamos o mundo e o tempo p'ra pensar em nós dois;
Mergulhávamo-nos nas profundezas deste nosso ninho
De deleitosa paixão, pervertido amor e interminável carinho.

quarta-feira, abril 9

Choro

Os meus olhos inchados, cheios de dor,
São os olhos mais tristes deste mundo!
E com largas lágrimas meu rosto inundo
A chorar por ti, meu grande amor.

Choro porque vi o meu grande amor
Ser mergulhado em abismo profundo,
Por minha vida ser um jardim imundo,
Onde já não há viva uma única flor.

Choro porque te amo e te detesto;
Choro minha tristeza, por ter mágoa;
Choro porque para rir falta pretexto.

Choro porque me sinto uma nódoa;
Choro porque me sinto um simples resto;
Choro...choro... e choro "muita água"!

segunda-feira, abril 7

Vem

Vem com o teu angélico sorriso,
Chega-te até te colares em mim...
Vem chamar-me de Querubim;
Vem e dá-me tudo o que eu preciso.

Preciso que acabes com este amor indeciso;
Preciso - e quero-o muito - do teu sim,
Que a esta solidão desgostosa ponhas fim,
Que reponhas na minha vida o siso.

Quero que venhas com semblante cheio
De alegria, para escutar este carme
que, nesta hora, te dedico, sem receio;

Que me atendas a este sibilante alarme
do meu penoso peito, despedaçado ao meio.
Vem depressa... que isto está a sufocar-me!

terça-feira, abril 1

Mentira e Verdade

Sendo hoje o Dia da Mentira, lembrei-me subitamente destes versos interessantes escritos por alguém que realmente devia saber o que estava a dizer, ao concebê-los. Acredito que realmente a mentira e a verdade, embora sejam conceitos antagónicos, andam de mãos dadas, mas, se calhar, de costas viradas, marcando presença frontal, ora uma coisa ora outra, não podendo nunca coexistir. Passo a citar os famosos versos de que nunca me esqueci (desde que os vi pela primeira vez) e me recordarei eternamente:

P'ra a mentira ser segura
E atingir profundidade,
Tem que trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade.

Teu Corpo Formoso

Um corpo caliente e formoso faz sempre alguma falta...
Porém, a ausência do teu, caloroso, até me tem doente.
Coladinho a ti, eternamente me regozijaria de contente,
Aparte de ti, tudo, sem excepção, tão somente me exalta.

A tua delicada e fina cintura de sereia, nem baixa nem alta,
Naquele andar compassado que a todos bloqueia corpo e mente,
Desnorteia-me por completo, deixa-me inconsciente e inocente...
E a cada passo teu em minha direcção, meu coração, excitado, salta!

Teus sempre lindos e tenros seios, de medida precisa e certa,
No teu peito, aconchegados e tímidos, firmemente se pousam;
O teu semblante arejado e altivo está presentemente alerta...

Tuas ancas ímpares ao mais musical e seguro rebolar ousam,
Feito ventoinha, que, religiosamente, o girar nunca desacerta...
Nisto tudo, meus olhos discretos no teu formoso corpo repousam.

quarta-feira, março 19

Ben dzem

Ben bô ben dzem ki bô krem txeu, kretxeu!
Ben bô ben falam ki bô t'amam, amor!
Ben mansinho... txiga na mi,
Aproximan di nha ouvidu y susurram'el.

Abô ê musa d'inspirasao pa ês versu tudo,
Abô ê koza ki max un kre nês mundo;
Bô ê razão pa tudo ês nha viver,
Ai, abô ê mdjer ki tud'omi ta kre ter.

Ben mansinhu e bô kola na mim,
Ben fazen un xamegu li nês cantin,
Undi nha korason ku tudu sê amor ta sperab,
Undi nha korpu ku tudu sê força ta desejab!

Kabverd

Kabverde bô ta longe ma bô tame perto...
Kabverde un ta auzente, ma prezente na pensamento,
Pa donde kun bai un ta levab na korasao
Y eternamente bô ten tudo nha devosao

Ê bô kultura kun ten na mi,
Ê bô ki fazem sin,
Ê bô alma ki bô inkutim...
Bô fazem un fidju ki na tudo momento
Ten pa bô um puro y sinsero sentimento.

Bô ê kel terra kun t'ama y un ta adora,
Bô ê kel paraízo na mei d'ociano.
Bôs ilhas spalhado nês mundo fora
Ê dun enkanto ímpar, sagrado e profano.

Kabverde un ta bai di longe té un txiga na bô,
Un ta bai kontenti ku alguém más ó mi só...
Kabverde bô ê un paiz di paixao
Y eternamente bô ten tudo nha admirasao.

terça-feira, março 18

Love of my Heart - Scorpions

Teus Olhos

Vejo nos teus olhos uma brilhante luz
Que me ilumina no escuro e me seduz;
Vejo nos teus olhos uma internável doçura
Que muito me fascina e meus males cura.

Eles transmitem-me a serenidade que me completa,
A paz d’alma a que meu espírito carente se entrega.
O seu olhar dispara-se a mim e atinge-me como uma seta
Que me vem direitinho ao peito, mas minha morte nega.

Teus olhos espelham o que te vem n’alma,
Inspiram a paixão, denunciam a calma
Que trazes dentro de ti quando estás comigo.

E eu, nesta hora, sou teu amante e amigo,
Sou aquele que te faz feliz e feliz fazes,
Sou quem, na maior das brigas, almeja as pazes.

Cabo Verde

Cabo Verde é nome que te chamou
Outra etnia de longe que expandiu,
Num barco antigo que no mar surgiu
E longínqua colónia visionou...

Com pesada função se te ocupou!
O mal do cativeiro te encobriu…
Por séculos sobre ti pois se viu
A tortura que teu povo humilhou.

De branco e negro, por esta mistura,
Originou ele assim desta incerteza
De ganhar futuro, de ter ventura.

Contudo, libertou-te, com firmeza,
Do mundo obscuro da escravatura,
Da condenação à eterna tristeza.